Smell like a teen spirit musica e clip, são considerados divisores de água do mundo do rock, o que era apenas considerado grunge entrou de forma gloriosa para a história da musica.
Smell like a teen spirit por TORI AMOS live at Montreux 1992
“O olho de um scanner abandonado não está cego. Ele apenas deixou de olhar o mundo de forma obediente conforme programação formulada pela indústria. Um equipamento quebrado se transforma num marginal dentro da sociedade de consumo. A esse olhar marginal da máquina, Guilherme Maranhão sobrepõe uma atitude libertária, subversiva de reinventar o seu ponto de vista sobre o visível.
Ao recuperar esse olho eletrônico do lixo das lojas de sucatas e reinseri-lo no mundo, o artista ao mesmo tempo tira do automático a máquina, a função do fotógrafo e, por fim, a percepção de quem observa tais imagens.
Este circuito, criado por Maranhão, permite que o acaso também concorra na interpretação da paisagem, conferindo-lhe uma visualidade que não tem como referência a hegemonia do olhar humano, e tampouco siga a bula do programa que transforma o mundo numa mimese pasteurizada e hegemônica, elaborado pelos engenheiros.
“Pluracidades”, gestada à margem da automaticidade do olhar da indústria eletrônica e sob o ponto de vista desse fotógrafo desobediente das regras, faz emergir no nosso olhar robotizado a paisagem reinventada de uma cidade errática.
Sem referências geográficas, essa estranha urbe se redesenha em geometrias lúdicas, em rastros luminosos que flagram a passagem do tempo. E, assim, a vida se precipita, linha por linha, em poéticas fusões de cores, formas e associações que redimensionam a experiência do olhar.”
Eder Chiodetto (Curador do Clube de Colecionadores de Fotografia do MAM-SP)
Quem poderia ouvir oh! velho Rilke, que anjos que demônios poderiam ouvir, entre os abismos verbais das elegias, um poeta brasileiro da Amazônia
em busca de caminhos na página, no verso, na quimera, rosas de areia e tempo recolhendo em ampulhetas quebradas no Muro que tombou?
O que podem as palavras ante os muros?
O que pode o poema? Pássaro, sílabas, penas a espatifar-se contra pedras em vísceras, sons, sangue, sonhos? O que podem essas plumas face as pedras? O que pode o poema?
O que pode essa pétala do acaso, no dorso empredernido dessas pedras? O que pode o poema?
2 O que dizer desse Muro e de suas inumeráveis ruínas arruínadas?
Que monumento de palavras há de erguer-se nesse vácuo do nada?
O horizonte está maior? O tempo colou partes do tempo que um vendaval com raios
repartiu em duas? Nas reunidas ruas de Berlin quantos rostos reconhecem faces nessa festa de Faustos e Mefistos?
Entre o peso das pedras na memória há de restar o musgo, disfarce discretíssimo do amor nas frestas desse ódio?
O que falar de muros?
3 Quantas vêzes o Sol sol celebroute, ostensório na mão de novos dias, passou por sobre o Muro?
Quantas vêzes a Aurora das manhãs da Poesia com róseos dedos ergueu-se e olhou por sobre o Muro?
Quantas vêzes Valquírias a buscar a primavera, pés após pés pétala ante pétala distraídas,
estacaram a pensar que o horizonte era um muro de pedras?
4 Caíu no oco de si mesmo. Tão sólido? Tão frágil?
Pedra da História rolada dos ombros de Sísifo? Cantor de guerra calado nos lábios do medo? Anel de Nibslungo
gangrenando os alvos dedos da Paz? Espada imemorial pendida sobre o partido coração do tempo?
Quando a montanha tomba levanta-se em seu lugar, a paisagem. No lugar do não-ser floresce o ser. O que há de agora erguer-se no vazio desse Muro ruído?
5 Ouvidos colados ao chão desnudrado de utopias, tento ouvir no útero da Terra - feito Baiá, o poeta da tribo - tento ouvir, raro rumor de passos de alvoradas nesse ruir de pedras arruinadas.
Goiás, minha cidade... Eu sou aquela amorosa de tuas ruas estreitas, curtas, indecisas, entrando, saindo uma das outras. Eu sou aquela menina feia da ponte da Lapa. Eu sou Aninha.
Eu sou aquela mulher que ficou velha, esquecida, nos teus larguinhos e nos teus becos tristes, contando estórias, fazendo adivinhação. Cantando teu passado. Cantando teu futuro.
Eu vivo nas tuas igrejas e sobrados e telhados e paredes.
Eu sou aquele teu velho muro verde de avencas onde se debruça um antigo jasmineiro, cheiroso na ruinha pobre e suja.
Eu sou estas casas encostadas cochichando umas com as outras. Eu sou a ramada dessas árvores, sem nome e sem valia, sem flores e sem frutos, de que gostam a gente cansada e os pássaros vadios.
Eu sou o caule dessas trepadeiras sem classe, nascidas na frincha das pedras. Bravias. Renitentes. Indomáveis. Cortadas. Maltratadas. Pisadas. E renascendo.
Eu sou a dureza desses morros, revestidos, enflorados, lascados a machado, lanhados, lacerados. Queimados pelo fogo. Pastados. Calcinados e renascidos. Minha vida, meus sentidos, minha estética, todas as vibrações de minha sensibilidade de mulher, têm, aqui, suas raízes.
Eu sou a menina feia da ponte da Lapa. Eu sou Aninha. "Cora Coralina".
De tudo ficou um poucoDo meu medo. Do teu asco. Dos gritos gagos. Da rosa
ficou um pouco.
Ficou um pouco de luz captada no chapéu.
Nos olhos do rufião de ternura ficou um pouco (muito pouco).
Pouco ficou deste pó de que teu branco sapato se cobriu. Ficaram poucas roupas, poucos véus rotospouco, pouco, muito pouco.
Mas de tudo fica um pouco.
Da ponte bombardeada, de duas folhas de grama, do maço ― vazio ― de cigarros, ficou um pouco.
Pois de tudo fica um pouco.
Fica um pouco de teu queixo no queixo de tua filha. De teu áspero silêncio um pouco ficou, um pouco nos muros zangados, nas folhas, mudas, que sobem.
Ficou um pouco de tudo no pires de porcelana, dragão partido, flor branca, ficou um pouco de ruga na vossa testa, retrato.
Se de tudo fica um pouco, mas por que não ficaria um pouco de mim? no trem
que leva ao norte, no barco, nos anúncios de jornal, um pouco de mim em Londres, um pouco de mim algures? na consoante? no poço?
Um pouco fica oscilando na embocadura dos rios e os peixes não o evitam, um pouco: não está nos livros. De tudo fica um pouco.
Não muito: de uma torneira pinga esta gota absurda, meio sal e meio álcool, salta esta perna de rã, este vidro de relógio partido em mil esperanças, este pescoço de cisne, este segredo infantil... De tudo ficou um pouco: de mim; de ti; de Abelardo. Cabelo na minha manga, de tudo ficou um pouco;
vento nas orelhas minhas, simplório arroto, gemido de víscera inconformada, e minúsculos artefatos: campânula, alvéolo, cápsula de revólver... de aspirina. De tudo ficou um pouco.
E de tudo fica um pouco. Oh abre os vidros de loção e abafa
o insuportável mau cheiro da memória.
Mas de tudo, terrível, fica um pouco, e sob as ondas ritmadas e sob as nuvens e os ventos e sob as pontes e sob os túneis e sob as labaredas e sob o sarcasmo e sob a gosma e sob o vômito e sob o soluço, o cárcere, o esquecido
e sob os espetáculos e sob a morte escarlate e sob as bibliotecas, os asilos, as igrejas triunfantes e sob tu mesmo e sob teus pés já duros e sob os gonzos da família e da classe, fica sempre um pouco de tudo. Às vezes um botão. Às vezes um rato.
Não salte dessa janela, meu poema, resista. Não mergulhe nesse tacho de banha velha já tão podre. Não se mate Nessa corda cheia de nós nessa merda sem vida. Se mate, salte, mergulhe se isso construir, destruir. Seja teimoso e continue. Não fale sozinho, fale. Não se anule.
Não quero regras para teu bote de tinta e fala, quero a tua voz com tom de explosão nova, como soco na cara.
(É preciso agora e aqui não se atirar nessa lama em coma.)
Olhe atento para o lado depois olhe de cima depois mergulhe com fibra e olhos abertos persistência de pulso pulsando preparado para tiro na cara faca que fura pulmão fácil riso de não, sarcasmo portátil.
Meu poema eu quero que você
resista!
TRISTES HOMENS AZUIS
não é blues, tristes, não é mesmo a tristeza não faz um homem azul o branco é branco, o negro é negro ninguém é triste, não há blues só existem, tristes, os tristes homens azuis
eles se vestem de branco e de negro e os outros vêem azul porque não são brancos nem negros os tristes homens azuis
ninguém nasce azul não se põe no mundo alguém azul mas quando a noite baixa se levantam os tristes homens azuis