26.10.10

Um abraço


Um braço,
outro braço,
um abraço.

De fato é coisa gostosa
e não tem como não ser,
pois sempre quando se dá
acaba-se por receber.
É carinho que se troca
e aquece o coração,
pode ser do pai, do amigo,
da mãe ou do nosso irmão.

Não consigo entender
como pode uma pessoa
se retrair a um abraço
que é coisa muito boa

Abraço é sinal de afeto
é sinal de amizade,
demonstra de forma concreta
amor e cumplicidade.

Se alguém vir te abraçar
abra bem seu coração
retribua com toda força,
que tenha a sua emoção.

Ganha quem dá o abraço,
ganha quem vai receber
e é coisa muito simples,
bem fácil de se fazer:
Solte levemente os braços
e vá aos poucos levantando
coloque ao redor do corpo
de quem está te abraçando.
Aperte só um pouquinho
e vai começar a sentir
uma sensação bem gostosa,
é a emoção a fluir!
O próximo passo a fazer
é prender a respiração
pois só assim você consegue
ouvir o compassado tic tac
que fazem os dois corações.

Sou defensora fervorosa
da teoria do abraço
pois um abraço bem dado
desmancha qualquer cansaço,
cura qualquer ferida,
deixa o dia mais feliz
e a vida mais colorida.

Vamos fazer um trato?
Faça só para experimentar,
coloque uma meta diária
de abraços pra você dar.
Comece apenas com dois
ou três se você quiser,
vá aumentando aos poucos
para o tanto que puder.

Quando isso virar costume
e isso logo vai acontecer,
você vai ser mais feliz,
sem nem mesmo perceber
e terá sempre um abraço,
pronto pra lhe aquecer.

                                Wanda Campos

Um olhar do poeta à noite, na praia de Ondina.


Enquanto o mar
embraça insistente a areia
em um beijo que os séculos
abençoaram: amém!

Da janela insone, eu conjugo
os tempos verbais da minha existência...
passado, presente, futuro...
onde só a brasa do cigarro aceso
lança luz
sobre as decididas trevas

As cinzas do Reveillon
ainda queimam, adormecidas...
bendita seja a santidade da mentira!

Ao horizonte que já não vejo
meia-noite, ventre e escuridão
estendo a mão, pálida guia,
grito que se perde na imensidão

O mundo despedaça-se em cacos
cactos
perfumada flor
e um deus, bêbado e depravado
recita o salmo do que não sou.

                                               Alexandre Gazineo

Eu Prefiro a Vida


Eu prefiro a vida,
e a utopia.
E vivo com amor,
e com intensidade.
Prefiro a morte certa porem ativa,
que a vida longa e entediante.
Antes ao pé do furacão com coragem, do quem em casa com medo do frio.
Antes lutando por idéias impossíveis, do que se conformando com as absurdas.

E viverei assim, acreditando no impossível,
amando e fazendo,
por que os sonhos estão ai pra se tornarem reais,
e a felicidade ai para ser vivida.
E viverei vendo a beleza de tudo, e celebrando a felicidade.
Viverei no impossível tornando sonhos reais e
serei feliz, ainda que louco.

Eu prefiro o vento nos cabelos, a poltronas macias.
Eu prefiro sapatos gastos, a portas bem fechadas e seguras.
Eu prefiro natureza, a fotos bonitas.
Eu prefiro algum resultado, a excesso de cautela.
Eu prefiro as estrelas, a um teto seguro.
Eu prefiro amar (alguém), ao invés de ter.
Eu prefiro a vida, a falta de emoção.

                                                     Vinícius de Paula Menezes

20.10.10

Reencontros...


Quando do reencontro
nossos desejos renasceram,
nossos sonhos reviveram...
Sonhos e desejos até então
adormecidos...
Eis que o amor os desperta,
e,por nós serão vividos...

Sinto-te tão próxima...
Teu cheiro, teu sabor ,
teu corpo a meu lado,
apertado em meu abraço...

Enfim...
Chega o tão esperado dia...
O dia da União...
Dois corpos e duas almas
em autentica fusão...
Não há mais sepração!!!
Beijos,afagos,carícias,
toques e ...

Infindáveis namoros sinceros
onde não mais reside a ilusão...

Com amor, para um grande amor...

                                          José Carlos Prieto de Mattos




Nas viagens de muitas vidas,

ganham-se experiências

e aprendizagem do amor;

perdem-se, temporariamente,

presenças amigas.

A vida é eterna...

Noites e dias sucedendo-se pelo infinito...

Certas dores existenciais indefinidas

podem bem ser conseqüências

de afastamentos de amor amigo,

afastamentos de tempo equivalente

a uma ou mais vidas,

parecendo, por isso, eternos...

ainda que temporários.

se a separação ocorre sempre,

o reencontro igualmente é certo,

embora encoberto pelo esquecimento,

manto de cada encarnação.

Uma força de energia interior inexplicável

pode revelar uma amizade,

de tempo remoto, reencontrada;

emoção indefinida,

quase ilógica, mas tão forte,

feito o mar banhando as rochas,

com energia, suavidade e inconsciência,

sob cor dourada, de inteira beleza,

criada pelo sol ao entardecer.

Uma certeza íntima inteligível

pode ser a prova de um "reencontro",

sensação opondo-se à razão,

mas impondo-se feito raios solares,

que a despeito da noite,

invade-nos com inteira alegria reluzente,

num renascer em límpida manhã de vida.

                                                                              
                                                                                              Moacir Sadler






15.10.10

Sem Querer Saber

Eu sei, sem querer saber,
que hoje pensas que me enganas,
enganando a ti,
nos fazendo sofrer.

Eu sei, por querer saber,
que hoje o arrependimento
leva teu cérebro ao tormento,
a mente não dá ilusão.

Eu sei, sem querer saber,
que para imagem irreal,
procurar longe é encontrar
o que está perto de ti.

Eu sei, por quero saber,
que me amas de verdade,
que sou eu a tua realidade,
que sem mim não saberás viver.

                            Dyrcéa Nobre


Vou me embora prá Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei


Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive


E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada


Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar


E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

                                                                                                 Manuel Bandeira

Amor - Palavra Essencial

AMOR - pois que palavra essencial -
Começe esta canção e toda a envolva.
Amor, guie o meu verso, e enquanto o guia,
Reúna alma e desejo, membro e vulva.

Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma expandir-se
Até desabrochar em puro grito
De orgasmo, num instante infinito?

O corpo noutro corpo entrelaçado,
Fundido, dissolvido, volta a origem
Dos seres, que Platão viu completados:
É um, perfeito em dois; são dois em um.

Integração na cama ou já nos cosmo?
Onde termina o quarto e chega aos astros?
Que força em nossos flancos nos transporta
A essa extrema região, etérea, eterna?

Ao delicioso toque do clitóris,
já tudo se transforma, num relâmpago.
Em pequenino ponto desse corpo,
A fonte, o fogo, o mel se concentraram.

Vai a penetração rompendo nuvens
E devassando sóis tão fulgurantes
Que nunca a vista humana os suportara
Mas, varado de luz , o coito segue.

E prossegue e se espraia de tal sorte
Que, além de nós, além da própria vida,
Como ativa a abstração que se faz carne,
A idéia de gozar está gozando.

E num sofrer de gozo entre palavras,
Menos que isto, sons, arquejos, ais,
Um só espasmo em nós atinge o climax:
É quando o amor morre de amor, divino.

Quantas vezes morremos um no outro,
no úmido subterrâneo da vagina,
Esse amor mais suave de que o sono:
A pausa dos sentidos, satisfeita

Então a paz se instaura. A paz dos Deuses,
Estendidos na cama, qual estátuas
Vestidas de suor, agradecendo
O que a um Deus acrescente o amor humano.


                                                    Carlos Drummond de Andrade