Enquanto o mar
embraça insistente a areia
em um beijo que os séculos
abençoaram: amém!
Da janela insone, eu conjugo
os tempos verbais da minha existência...
passado, presente, futuro...
onde só a brasa do cigarro aceso
lança luz
sobre as decididas trevas
As cinzas do Reveillon
ainda queimam, adormecidas...
bendita seja a santidade da mentira!
Ao horizonte que já não vejo
meia-noite, ventre e escuridão
estendo a mão, pálida guia,
grito que se perde na imensidão
O mundo despedaça-se em cacos
cactos
perfumada flor
e um deus, bêbado e depravado
recita o salmo do que não sou.
Alexandre Gazineo