“Se tens a beleza simples e mais nada, tens quase tudo o que DEUS fez de melhor”.
22.8.10
O olhar de Eder Chiodetto
“O olho de um scanner abandonado não está cego. Ele apenas deixou de olhar o mundo de forma obediente conforme programação formulada pela indústria. Um equipamento quebrado se transforma num marginal dentro da sociedade de consumo. A esse olhar marginal da máquina, Guilherme Maranhão sobrepõe uma atitude libertária, subversiva de reinventar o seu ponto de vista sobre o visível.
Ao recuperar esse olho eletrônico do lixo das lojas de sucatas e reinseri-lo no mundo, o artista ao mesmo tempo tira do automático a máquina, a função do fotógrafo e, por fim, a percepção de quem observa tais imagens.
Este circuito, criado por Maranhão, permite que o acaso também concorra na interpretação da paisagem, conferindo-lhe uma visualidade que não tem como referência a hegemonia do olhar humano, e tampouco siga a bula do programa que transforma o mundo numa mimese pasteurizada e hegemônica, elaborado pelos engenheiros.
“Pluracidades”, gestada à margem da automaticidade do olhar da indústria eletrônica e sob o ponto de vista desse fotógrafo desobediente das regras, faz emergir no nosso olhar robotizado a paisagem reinventada de uma cidade errática.
Sem referências geográficas, essa estranha urbe se redesenha em geometrias lúdicas, em rastros luminosos que flagram a passagem do tempo. E, assim, a vida se precipita, linha por linha, em poéticas fusões de cores, formas e associações que redimensionam a experiência do olhar.”
Eder Chiodetto
(Curador do Clube de Colecionadores de Fotografia do MAM-SP)