5.8.10

O olhar poético de Marcos Prado

NÃO SE ANULE

Não salte dessa janela, meu poema,
resista.
Não mergulhe nesse tacho
de banha velha já tão podre.
Não se mate
Nessa corda cheia de nós
nessa merda sem vida.
Se mate, salte, mergulhe
se isso construir, destruir.
Seja teimoso e continue.
Não fale sozinho, fale.
Não se anule.


Não quero regras
para teu bote de tinta
e fala,
quero a tua voz
com tom de explosão nova,
como soco na cara.


(É preciso agora e aqui
não se atirar
nessa lama em coma.)


Olhe atento para o lado
depois olhe de cima
depois mergulhe
com fibra e olhos abertos
persistência de pulso pulsando
preparado para tiro na cara
faca que fura pulmão fácil
riso de não, sarcasmo portátil.


Meu poema
eu quero que você


                            resista!


TRISTES HOMENS AZUIS

não é blues, tristes, não é mesmo
a tristeza não faz um homem azul
o branco é branco, o negro é negro
ninguém é triste, não há blues
só existem, tristes, os tristes homens azuis


eles se vestem de branco e de negro
e os outros vêem azul
porque não são brancos nem negros
os tristes homens azuis


ninguém nasce azul
não se põe no mundo
alguém azul
mas quando a noite baixa
se levantam
os tristes homens azuis